Dédalo observa Ícaro cair do céu

Dédalo, o inventor de grandiosa engenhosidade

Dédalo é um cidadão ateniense e o mais famoso artista universal, escultor, arquiteto e inventor da Grécia antiga. Era filho de Metíon com Alcipes, filha de Cêcrops, rei de Atenas, e, por conseguinte, pertencente a família real. A ele são atribuídas as mais ilustres obras da época. Dentre suas criações destacam-se o imponente palácio de Cnossos e, situado abaixo do mesmo, o labirinto do Minotauro, ambos construídos na ilha de Creta. Também lhe são atribuídas as invenções do compasso geométrico, modelos de velas para navios, o machado, a broca e as estátuas animadas, os míticos autômatos.

O exílio de Dédalo

A irmã de Dédalo, Perdiz, possuía um filho de mesmo nome (em grego Pêrdix). Aproveitando a proximidade familiar colocou seu filho sob os cuidados do tio para que recebesse treinamento. Perdiz logo mostrou-se muito inteligente e talentoso. Certa vez, inspirado na espinha do peixe, inventou a primeira serra. Seu tio, egocêntrico como era, sentia muita inveja dos prodígios do sobrinho, sendo assim, em dada oportunidade, aproveitando-se da fragilidade do rapaz, atirou-o do alto de uma torre da acrópole.

A morte de Perdiz não passou despercebida e, desta forma, acabou levando Dédalo a julgamento. O inventor tentou se safar de seu crime hediondo alegando que fora um acidente de trabalho, todavia, foi considerado culpado pela morte do sobrinho. Sua sentença foi o banimento da cidade-estado de Atenas, proibido para sempre de voltar à terra natal.

A vida na ilha de Creta

Após ser banido de Atenas, Dédalo encontrou asilo na ilha de Creta, onde foi acolhido pelo rei Minos, passando, deste modo, a trabalhar sob as ordens do mesmo. Ali, Dédalo relacionou-se com uma escrava do palácio real, chamada Náucrate, e tiveram um filho de nome Ícaro.

Dédalo, Pasífae e a vaca de madeira
Pintura: Dédalo, Pasífae e a vaca de madeira, Pompeia.
Casa dei Vettii.
Fonte: Wikimedia Commons.

Uma das tarefas delegadas à Dédalo pelo rei foi a criação de um suntuoso palácio. A edificação, denominada palácio de Cnossos, possuía tantos quartos, salas e corredores se interligando, que era fácil se perder lá dentro. Contudo, seus talentos não se limitavam à projetos arquitetônicos, sendo assim, certa vez Pasífae, a esposa de Minos, recorreu em segredo ao intelecto de Dédalo para que este lhe ajudasse a ter relações com o fabuloso Touro de Creta. O inventor engendrou um projeto de uma vaca de bronze na qual a rainha poderia permanecer em seu interior durante o ato sexual. O plano, afinal, funcionara bem e o segredo fora mantido até que, tempos depois, Pasífae pariu um monstro terrível parte homem e parte touro: o Minotauro.

O rei ficara descontente com a infidelidade da rainha e de seu arquiteto e horrorizado ao ver o monstro. Por fim, mandou que Dédalo construísse um labirinto para prender o Minotauro. A estrutura foi concebida embaixo do palácio de Cnossos e era tão grande e confusa que apenas Dédalo seria capaz de encontrar a saída.

O fio de Ariadne

Se antes a confiança do rei estava abalada pela traição do inventor quando este construiu a vaca de bronze, agora, porém, Dédalo gozava de renovada credibilidade. O labirinto cumpriu tão bem seu papel de morada do Minotauro que o rei pôde utilizá-lo para sacrificar 14 jovens, anualmente durante nove anos, oferecidos como parte de um acordo com a cidade-estado de Atenas.

Foi em uma dessas oferendas que o herói Teseu voluntariou-se para acabar com o Minotauro. Ao chegar em Creta, Ariadne, a filha do rei Minos, apaixonou-se por Teseu. Sabendo que, mesmo que o monstro fosse morto, seria impossível escapar do labirinto, Ariadne, então, recorreu a Dédalo para que ajudasse o herói na fuga. O inventor deu à moça um novelo e instruiu-a que o fosse desenrolando conforme o avançar do percurso. Com este artifício Teseu, após matar o monstro, conseguiu sair do labirinto. O herói partiu da ilha de Creta levando consigo Ariadne, que sofreria a cólera do pai, além dos outros 13 jovens que compunham a oferenda.

A fuga de Creta

Dédalo observa Ícaro cair do céu
Pintura: Dédalo observa Ícaro cair do céu, entre 1635 e 1637. Jacob Peter Gowy.
Museo del Prado.
Fonte: Wikimedia Commons.

Ajudar a princesa seria o último ultraje de Dédalo. Ele e o filho Ícaro foram condenados à prisão perpétua no labirinto e, desta vez, sem um novelo para guiá-los. Contudo, a decisão não foi acertada, pois, mandar prender o construtor na própria criação foi um erro crasso do rei. Por fim, o inventor escapou facilmente do temido labirinto, levando seu filho consigo, e logo começou a maquinar sua fuga da ilha.

Como todas as praias, à mando do rei, estavam sendo fortemente vigiadas, a única saída seria pelo céu. Sendo assim, Dédalo empenhou-se em desenvolver dois pares de asas, inspiradas nas aves, para alçarem voo e ganharem a liberdade. Enquanto seu pai executava o projeto, Ícaro recolhia, repetidas vezes, todas as penas que encontrava, para que, deste modo, a invenção pudesse ser finalizada. Mais uma vez a engenhosidade de Dédalo concebeu algo extraordinário, as penas coletadas foram presas com cera, uma a uma, formando as asas. Ele e o filho fugiram voando da ilha de Creta, cada qual com um belo par de asas.

A alegria de Dédalo, porém, não foi completa. Enquanto fugiam, seu filho Ícaro perdeu o controle do voo, pois voara perto demais do sol e a cera derreteu, e caiu no mar próximo a algumas ilhas. Dédalo, que não poderia parar, lamentou a morte do filho e batizou o local do seu exício de ilhas Icárias.

A perseguição de Minos

Dédalo chegou ao sul da Itália e estabeleceu-se na cidade de Cumas. Como Minos estava em uma busca implacável, o arquiteto precisou fugir para a cidade de Câmico na Sicília, ali foi acolhido pelo rei Cócalo. A mando deste rei, o arquiteto teria projetado as poderosas muralhas de Acragas.

Minos chegou ao sul da Itália e, sabendo da engenhosidade de Dédalo, lançou um desafio a quem quisesse resolver, prometendo, claro, uma copiosa recompensa. O desafio consistia em passar um fio de linha entre as espirais de uma concha. Ao saber do desafio o rei Cócalo ficou interessado na recompensa e pediu para Dédalo executar a tarefa, mas sem entregá-lo à Minos. O inventor, então, amarrou a linha em uma formiga e colocando mel na extremidade da concha fez com que o inseto percorresse as espirais e, por conseguinte, completando o desafio.

A resolução do desafio era o sinal da presença de Dédalo que Minos tanto buscava. Ele pediu ao rei Cócalo que o entregasse para que pudesse dar a devida punição, todavia, em um primeiro momento, o rei se negou a entregar seu protegido. Contudo, após pressão do outro rei, Cócalo decidiu por entregar o que ele tanto almejava e convidou Minos para visitar seu palácio. Pensando que conseguiria finalmente capturar Dédalo, Minos aproveitou sua condição de convidado e permitiu-se tomar um banho preparado pelas filhas do rei. O que Minos não sabia, era que Cócalo havia instruído suas filhas para que o matassem durante o banho com água ebuliente ou, talvez, substituíssem a água por piche fervente, com um sistema engendrado pelo próprio Dédalo. Esta foi a terrível morte do rei de Creta e o fim da perseguição ao arquiteto.

Bibliografia

APOLODORO. Biblioteca mitológica. Edición de José Calderón Felices. 1.ed. Madrid: Akal, 1987.

BRANDÃO, J. S. Mitologia grega. 1.ed. v. 1. Petrópolis: Vozes, 1986.

BULFINCH, T. O livro de ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis. Tradução de David Jardim. 1.ed. Rio de Janeiro: Agir, 2015.

DANIELS, M. A história da mitologia para quem tem pressa. Tradução de Heloísa Leal. 2.ed. Rio de Janeiro: Valentina, 2016.

FRANCHINI, A. S.; SEGANFREDO, C. As 100 melhores histórias da mitologia: deuses, heróis, monstros e guerras da tradição greco-romana. 9.ed. Porto Alegre : L&PM, 2007.

KURY, M. G. Dicionário de mitologia grega e romana. 8.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

STEPHANIDES, M. Prometeu, os homens e outros mitos. Tradução de Marylene Pinto Michael. 4.ed. São Paulo: Odysseus, 2015.

Imagens

Wikimedia Commons.